domingo, 11 de novembro de 2007

Suicídio

Naquela noite fria, acordei...
Sentei-me perto da janela da janela do meu quarto, olhei a lua, e ali fiquei. Quieto.
Perante tamanha altivez, senti-me pequeno. Era Domingo, não confirmei horas, mas deviam ser sensivelmente umas 4 da manhã. Todo o silencio, fazia eco nos meus ouvidos. Tinha sido um dia comprido e dificil, no entanto não me sentia cansado, mas apenas ausente. Encostei levemente a cabeça ao vidro, daquela janela grande e fria. Derrepente tocou o telefone. Não tive forças para ir até ele, para ver quem estava do outro lado, e sinceramente não estava interesado em falar com ninguem. Queria estar ali quieto.
Tinha, ainda nas minhas poucas forças, acendido um vela, onde coloquei no parapeito da janela. Por sorte tinha levado os cigarros para ali, e aproveitando aquela chama pequena acendi um cigarro.
Recordei lentamente alguns excertos da minha vida. Como pequenos filmes, passando diante dos meus olhos, cada vez mais pessados. Queria escrever algo, mas não me apetecia levantar, e pensar naquilo que possivelmente iria escrever. Preferi não o fazer. Fumei aquele cigarro lentamente. A sua cinza cai no chão do meu quarto. A sombras provocadas pela vela, a certa altura comecaram-me a fazer alguma confusão. Pareciam pessoas desenhadas nas paredes, que assistiam ali, a minha triste figura.
Foi então que olhei á minha volta, e apercebi-me lentamente que seria a ultima vez que ali iria estar.
Aquela cama, onde tantas vezes tinha chorado, os cortinados oferecidos pela minha mãe.
A minha mãe... que seria dela. Fiquei preocupado, mas era tarde. Recordei então, aqueles passeios dados no jardim que ficava ao pé da casa dos meus pais. A minha mãe, sempre que pudia, levava-me até lá, e quando chegava a hora de voltar para casa, a minha mãe pegava em mim, abraçava-me e ao meu ouvido dizia que me amava.
Nessa lembrança, escrevi o seu nome no vidro já embaciado da minha cansada respiração. Foi ai que deixei cair a beata no chão, sem forças para colocar o pé em cima dela para a apagar.
Que tinha eu feito afinal...
Aí chorei..
O telefone voltou a tocar, mas no mesmo sitio ficou. Estava ao lado da moldura dos meus pais. Eram lindos. O meu pai tinha morrido já á algum tempo. Recordei tambem aquela ar imponente, forte. Não tenho grandes recordações com o meu pai, e tambem não o culpo disso, certamente que me amava, assim como eu o amei e ainda o amava. Sorri naquele momento, não sei se por felicidade, ou por saudade de tudo aquilo que sabia que iria deixar.
Nesse relampago de segundos tomei realmente consciencia, do que tinha feito. Olhei aquela caixa de comprimidos na minha comoda, e o copo vazio. É claro que sabia o que tinha feito, mas vendo-me ali naquele acto consumado, apercebi-me realmente que esta a chegar a hora.
Num sorriso descansado, fechei os olhos. Fiz um pedido de desculpa dentro de mim, para todos aqueles que iriam sentir a minha falta, dizendo que os amava. Deveria ter dito olhos nos olhos, mas nunca tive coragem.
Aliviado, senti o meu corpo pesado levando-me para baixo.
Despedi-me de mim mesmo, e senti o ultimo suspiro saido do meu peito.

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