domingo, 21 de outubro de 2007

Droga de vidas

Mata a curiosidade, mas não te mates a ti por ela...

Relato de quem se deixou levar pela droga.

Eu era uma garota de 15 anos

"Eu era uma garota. Uma garota que, aos 15 anos de existência, deixou de viver, mas que agradece a Deus a felicidade que um dia possuiu.
Eu era como você, autêntica, amiga, feliz e o mais importante era que eu vivia.
Nessa etapa, nessa época, eu saía da escola abraçada com os meus amigos, trocávamos mensagens de fé, carinho e amor. Saíamos todos juntos sem distinção de cor, raça, sexo ou religião. Nós nos divertíamos ao máximo.
Quando íamos à igreja, rezávamos todos juntos com uma chama de esperança nos olhos, de um mundo melhor.
Naquela época eu tinha amigos. Sempre que precisavam de mim, eu estava disposta a ajudar, fazia o que podia para tirar você da angústia. Um dia fiquei angustiada e fui falar com você. Pedi uma palavra de fé, esperança, conforto, e você mostrou-me algo que chamou minha atenção, um algo que parecia com um cigarro comum.
Você ofereceu-me e disse que aquilo ia me fazer bem, iria me ajudar. Fumei aquele cigarro sem medir as consequências, pois acreditava em você.
Enquanto estava sob efeito do tóxico tudo estava bem. Passando o efeito, procurei-o novamente, e novamente você me ofereceu a famosa ' maconha'.
Passou muito tempo e minha vida foi se resumindo em procurá-lo, ou melhor, procurar a maconha que você me oferecia. Na realidade eu já era uma morta-viva, porque a única coisa que me mantinha viva era o meu coração, que não havia parado de bater.
Resolvi então procurar alguém que pudesse me ajudar a deixar a maldita droga. Fui ao médico.
No dia seguinte, fui buscar um dos vários resultados dos exames que o médico havia pedido, justo no dia do meu aniversário, no dia em que completaria 15 anos. No resultado, constava uma doença grave em alto adiantamento, pouco tempo de vida. Morri antecipadamente, morri porque você foi um dos culpados, também responsável pela minha morte. Na realidade você foi um dos principais, pois quando lhe pedi vida você me ofereceu a morte."

Olhos de já não consegue chorar...



A ti que les, o que te falta?
Tristemente olho para aqui, e sinto me pequeno, sujo e até mesmo despresivel...
Que rosto marcado. Que olhar calmo e sereno de quem espera, sabe se lá porque...
Olhei pela primeira vez para esta criança e chorei, não de pena dela, mas sim de vergonha por todos nós. Nem sei o que escrever...

Pelo que esperas, menino?

Para onde olhas?

Menina



Caminho sam saber por onde, sem saber se sou eu mesmo a caminhar, por solos esquecidos por alguem que ali mesmo ja caminhou, sem nunca ter pensado que um dia eu mesmo, iria lá caminhar. Vou, entao sorrindo por esse passeio, olhando para ele tão fixamente que chego mesmo a esquecer para onde vou, sabendo que ia...
Estranhamente sou abordado por alguem, levanto os olhos e vejo-a ali, tão miserável como eu, rebosco aquela imagem todas as vezes que ali passo. Era uma criança, que vageava como eu, por situações diferentes, por realidades diferentes. Ainda posso ouvir as palavras vindas da sua boca suja, toda ela era suja, um misto de humildade e arrogancia espelhados num ser tão pequeno. Assusto-me, pois ia distraido na melancolia da minha vida, sem nunca pensar que ali alguem me iria abordar tão repentinamente. Era o cair da noite, depois de uma de chova, não me recordo ao certo, mas quase posso afirmar que a lua ja tinha acordado para mais uma noite.
O que fazia então uma criança aquela hora sozinha, na rua, num passeio que rodeava a igreja. Havia arvores e bancos de jardim, Lembro-me da luz do candeeiro , que iluminava uma das portas laterais da igreja, deduzi pelo cenário funebre, que ali mesmo havia um termino para alguem que ja não nos pertence. Ouvi choros e gritos de desespero, de saudade, por alguem que partira com a certeza que já não voltava. Mas e aquela criança que fazia ali?
Como é de calcular, agora que este cenario me foge do olhar, consigo pensar mais calmamente naquela excerto da minha vida que demorou segundos, mas que tanto me tem dado que pensar. Era um misto da minha vida, com a vida daquela criança, e as vidas daqueles que estavam a dizer um ultimo adeus a alguem.
O meu olhar cruzou-se por instantes com aquela criança. Não sei ao certo decifrar os sons que sairam de sua boca, pois a unica coisa que me recordo foi os "nãos" constantes que dizia, em tom de desprezo, para com aquele ser que não devia ter mais de dez anos. Anos esses gastos, por alguem que não soube o que fez ao por no mundo um ser tão precioso, tão puro. Neste relampago de olhares notei que ela chorava, mas mesmo assim não detive a mensagem gestual que me lançara. A minha unica preocupação era continuar a olhar para aquele chão, que tanta gente já pisou, e levar comigo todo aquilo que estava a sentir. Continuei sem pestanejar, até que, não parando o meu percurso olhei para atras, mas já não a vi.
Depois as palavras daquela criança, comecaram lentamente a fazer sentido na minha mente, que igoista não esitou em despresa-la.
Estava perdida, aflita, unicamente desejava, depois de um dia exaustivo, encontrar seus pais, de quem se perdera. Mas como eu podia advinhar? Aquela criança parecia-me uma pedinte, uma daquelas que andam a pedir dinheiro para dar aos pais, e que chegam mesmo a roubar.
Preconceito puro, naquelo momento senti-me mal, pois não tive a capacidade de ajudar uma menina perdida, pois pensei que pertencia a uma etnia qualquer, andando na rua, numa tentativa de enganar alguem.
Pergunto-me o que terá sido feito daquela alma que tão friamente rotulei, e despresei...
Os meus valores tinham ficado onde naquele momento...? Valores esses impostos por uma sociedade que julga sei ouvir, e que pensando só nela, comete erros como eu cometi...
Continuei a olhar para o chão, mas desta vez de vergonha, porque depois de me ter apercebido do que tinha feito, não tive coragem de voltar para trás. Então deixem me levar outra vez pelos meus pensamentos, onde coloquei aquela menina, como uma lição de vida para mim mesmo.
Queria que o tempo voltasse para trás, para pelo menos ter ouvido o apelo daquela criança, que com um olhar triste e medroso, sofreu tão jovem o peso do preconceito.

Porque amo...

Amo-te,
mas não te quero.
Tenho consciencia
plena dos sentimentos
que sinto.
Aguardo, pela morte
deste sofoco.
Amo-te,
mas para quê,
se tudo é um breve
suspiro.
agarro-me a mim
para te esquecer...
porque te amo
se já não te quero.
se já não sinto saudades.
desejo-te,
apenas isso
que com sentimento
esperei por ti,
e assim vou-te amando,
sem não te querer mais.
verdades,
escondidas por detras
de gestos de amor
gestos de carinho,
que anseio,
mesmo não te querendo.
Mas não consigo
deixar de te amar.
Caminho,
sobre esse sentido
amando-te
mas querendo
esquecer-te...

Espera do Vôo




A rapariga que podemos visualizar na fotografia, transporta-nos para um cenário artístico, uma espera ansiosa de que o pano se abra para inicializar uma dança poética. Sentada numa caixa de madeira invertida, no qual podemos ver letras, ao qual o significado nos é alheio. Pela maneira como esta sentada e da forma como apoia os braços e pés com a cabeça inclinada para baixo, mostra-nos uma preparação rebuscada de algo que provavelmente demorou algum tempo a ensaiar. Calcada com sapatinhas de seda, numa posição sobreposta, com focos de luz centrados na sua imagem, cria uma espectativa do que possivelmente ela fará quando se levantar. Esses mesmo focos que transportam a sua alma na tela branca colocada atrás, faz um retrato de um vulto, no qual podemos ver tons de cinza que espelham bem todo este conjunto de cores a preto e branco.
Com o seu cabelo castanho claro caído sobre seus joelhos, numas noances provocadas pelas luzes que vão na sua direcção, pode provocar em nós uma visão de moldura artística. E nesse chão coberto por ripas de madeira, esperamos que ela dance, numa junção de magia e realidade, em que o objectivo é só um, apenas brilhar.