segunda-feira, 29 de junho de 2009

Elogio ao Amor

Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra.· O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não.

by www.lies-from-azna.blogspot.com

terça-feira, 23 de junho de 2009

simulação

Sinto um revolta enorme no peito, num peso indescritivelmente pesado. Não me sinto bem comigo nem com o mundo. Nada nem ninguém me satisfaz. O que faço não tem sentido, e nem os meus sentidos fazem nexo. Sinto-me perdido, deprimido, sozinho, angustiado e infeliz. Apetece-me chorar, fugir, ate mesmo morrer.

Não tenho explicação nenhuma para o meu estado de espírito. Talvez ate tenha, mas não é aceite aos meus olhos, nem aos olhos de quem tento desesperadamente abrir o meu coração. Sinto que ando perdido neste mundo que em nada me satisfaz.

Olho e ando pelas ruas, e por dentro sinto-me a deambular como um vagabundo, não tenho sentido nenhum enquanto os meus caminham uns á frente do outro. Sei que ninguém me compreende. Talvez necessite de ajuda medica, e não tenho vergonha de o dizer, mas também sinto que preciso de atenção, alguém que fale comigo, que tenha tempo para mim. Alguém que tenha um gesto de carinho sem eu o pedir, alguém que demonstre verdadeiramente o que sente por mim, alguém que me ligue e que me pergunte se estou bem, porque realmente se interessa com isso. Preciso de alguém no verdadeiro sentido da palavra, que se preocupe, que demonstre essa mesma preocupação, que chegue ate mim, que sinta e demonstre que quer estar comigo e não faça porque eu pedi. Quero ser amado sem pedir, quero sentir amor voluntario, quero apenas sentir-me bem comigo e com aquilo que me rodeia.

OS meus pensamentos são escuros, as minhas ideias em vão. Sou um mendigo de amor, que pede e não devia, que recebe querendo mas da forma errada, sem sentido, sem a essência do verdadeiro sentimento.

Sou uma neblina sombria, que viagem se sitio para sitio. Que se coloca em frente dos olhos, mesmo sabendo que esses olhos não a querem ver. Sou apenas um, no meio de muitos milhões, que grita desesperadamente por uma libertação de estados de espírito deprimentes.

Vou acreditando em mim, e apenas em mim, porque acredito em vão que consigo continuar em frente com este peso. Guardo para mim tudo o que de mau acontece. Todas as palavras a mim dirigidas. Todos os actos destrutivos que tem. Guardo tudo, simplesmente tudo neste coração que teima em bater. Melhor era se parasse…

Melhor seria se fosse capaz de viver sem amor, viver apenas só, com todos os meus “eus”, com todas as minhas certezas e ideias estúpidas e não fundamentadas. Chego mesmo a acreditar que tudo isto não passa de um fantasia mental da minha parte, uma crença de crer que tudo corra mal.

Para todos os efeitos, sinto-me sal, aparentemente forte, mas que se desfaz com uma simples gota de agua. Desfaz-se como eu, desfaz-se como todas as minhas motivações, desfaz-se como todas as minha crenças, desfaz-se como todas as minhas ideias, desfazendo assim a minha simples vontade de viver…

o vento do meu eu

Vento, que em movimento

Fica imune ao sentimento

Alheio fico em consciência

Pela plenitude do que sinto

Grito vivendo com sede de o fazer

No meu ser

Apenas vejo a falta dessa estabilidade

Que nem mesmo o vento oferece

E parece

Que tudo na vida se desvanece

Num ápice de inconsciência humana

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Realidade do meu ser

A vida é estranha!!!!

Num acto súbdito de inspiração, finjo ser um génio.

No mesmo instante,

sou invadido pela estranha sensação de solidão

e finjo ser infeliz.

Sou…

Será que sim, será que sou mesmo um génio

Ou será que um infeliz.

Se calhar serei um génio infeliz.

Infeliz não sou, génio também não…

Então o que sou,

Serei certamente algo,

Talvez um leigo, ou um feliz

Um feliz leigo.

O que serei afinal

Um génio infeliz

Ou um leigo feliz.

Talvez fosse melhor não ser.

Nada ou ninguém,

Ate porque ser uma coisa ou outra

É fingir a realidade de ser.