quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Solidão


Para onde me levas solidão.
Caminho sem destino, deixando rasto de mim mesmo pela vida que me acompanha. Quero deixar de andar contigo de mãos dadas, vivo facetadamente indiferente a mim, ao que sou, ao que me tornei, e com medo do que possa vir a tornar-me, fujo de mim, abraço a solidão. Respiro fortemente na obrigação da minha existencia.
Portas a dentro do meu "eu", escondo-me.
Preso, cassulo-me... deixo o tempo passar na nostalgia das minha vivencias, e sufoco todo o meu presente, pela saudade de um futuro que quero a todo o custo. Embriagadamente rotulo-me, fugindo da realidade, porque não me encaixo no meu pensar. Neste decerto que a vida me impôs, vou caminhando só, tão só, que me esqueci de mim. e neste percurso longo, espero sinceramente que um dia, esta areia que toca nos meus pés, se torne em piso firme e solido, como eu por breves existencias minhas já pisei.

Intimo




O que ves ao olhar para mim. Quem te mostro afinal. Mostro-te quem sou, escondendo-me em mim. O meu interior sujo, não vês. Sou como uma caixa, no qual todos me conhecem, apenas por aquilo que vos mostro, colocando na escuridão o meu eu verdadeiro. Estas faces, são aquelas que não mostro, faço uma destruição perfeita, do meu intimo, meramente para o teu não lá chegar.
Não por vergonha, mas apenas porque me pertence só a mim.

FADO


Fado



...é saudade, são almas nossas, em que o desabafo cantado, comove. Embalos de quem tão fortemente nao nega as suas raizes. É sofrimento... num angustiar do ser portugues, claramente nitido nas vozes tremidas.
Gentes da terra, que ouvem, poetas escrever atraves de fadistas, que dão alma a musicas de grandes sentimentos.

Sereno, calmo, sofrido, faz me chorar, ás cordas de uma guitarra. Fico então perdido, com ausencias do mundo, apenas sentindo aquilo que o poeta sentiu.
É a alme pura de quem pensa naquilo que escreve. E suavemente, me deixo contagiar por ti, meu fado.

Meu...nosso, é apenas fado.
que mesmo não pedindo para ser amado, vive em meu coração, num espaço vazio de sentimentos. O suor das noites frias, em que só o fado existe, faz-me acreditar nas suas emoções.

Todo o amor que lhe renego, não o faço quebrando em mim a sua ausencia, mas sim apenas porque tão profundamente me toca. E nesses caminhos transpirados pela nossa lingua, vivo-te, por entre paisagens, ao teu som, que tão melancolico me deixa.

Amo-te meu querido FADO.
Tu que a mim pertences, apenas por ser portugues, orgulho-me por ti, de onde vieste, sem querer saber para onde vais.

Vagabundo és...
abandonado por nós, sobreviveste.
e estranhamente silenciado pela tua gente
cantas com sentimento,
e a cima de tudo
cantas com a alma...

A pergunta do (.) ás (...´s)

O (.) perguntou ás (...) quantos (.´s) ela tem,
porque o (.), de toda a solidão que tem, é um só (.)
que tem

Mas as (...) responderam prontamente,
que facilmente o (.) iria encontrar tres (.´s)
ao conjunto de (.´s) que ela tem...

terrivelmente o (.), triste ficou
por não conseguir perceber,
o porque de tantos (.´s)
as (...´s) ter.

Mas ao reparar a tristeza do (.)
as (...´s) prontamente consolaram
ao dizer que o (.)
era mais efica que elas.

Porque as (...´s)
são indescritivelmente inseguras,
e que mesmo sendo tres
não conseguem colocar pontos finais nos assuntos

Ai o (.), sorriu e viu
que com a sua altivez
apenas com um (.)
encerra o assunto de vez...

TRADUÇÃO

O ponto perguntou ás reticências quantos pontos ela tem,
porque o ponto, de toda a solidão que tem, é um só ponto
que tem

Mas as reticências responderam prontamente,
que facilmente o ponto iria encontrar tres pontos
ao conjunto de pontos que ela tem...

terrivelmente o ponto, triste ficou
por não conseguir perceber,
o porque de tantos pontos
as reticências ter.

Mas ao reparar a tristeza do ponto
as reticências prontamente consolaram
ao dizer que o ponto
era mais efica que elas.

Porque as reticências
são indescritivelmente inseguras,
e que mesmo sendo tres
não conseguem colocar pontos finais nos assuntos

Aí o ponto, sorriu e viu
que com a sua altivez
apenas com um ponto
encerra o assunto de vez(ponto)

Hoje de manhã saí muito cedo

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.

Alberto Caeiro

CAVALEIRO MONGE

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por casas, por prados
Por quinta e por fonte
Caminhais aliados

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por penhascos pretos
Atrás e defronte
Caminhais secretos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por prados desertos
Sem ter horizontes
Caminhais libertos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por ínvios caminhos
Por rios sem ponte
Caminhais sozinhos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por quanto é sem fim
Sem ninguém que o conte
Caminhais em mim.

Composição: Fernando Pessoa